Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Olá.
ResponderEliminarEste é parágrafo que eu li na aula, acerca do poema acima:
Através da construção anafórica, aliada à elipse (algo fica latente, "eu escrevo, porque..."; ou "eu admiro-te, porque..."), Sophia de Mello Breyner Andreson alicerça este poema quer na causa da repressão - pelo título que se repete incessantemente, como uma prece - quer, em simultâneo, na resistência singular de um "tu", a força motriz da mudança social pretendida. A denúncia da crescente imoralidade encapotada por uma pretensa virtude é evidente, apesar de subentendida. A poetisa mostra a sua opinião acerca do que se "passa": ao evidenciar a posição dos "outros", condena-os, e realça a atitude do "tu".
AntFrois