O Projecto «Os Poemas Vivos» é a concretização de uma ideia da professora de Português, envolvendo os alunos da turma B, 10.º ano, da ESFN (primeiro, muito hesitantes; depois, cada vez mais convictos...).
Pretende-se que os «pássaros» partam do ninho e (con)vivam aventuras pessoais, antologias literárias virtuais, que comprovem a presença da poesia nas suas vidas.
Mas não vão sozinhos: a construção de conhecimento é efectuada em ambiente de partilha.
E podem sempre voltar ao ninho...
O Ninho
domingo, 8 de maio de 2011
quarta-feira, 4 de maio de 2011
As Mãos
Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.
Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.
E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.
De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.
Manuel Alegre
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.
Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.
E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.
De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.
Manuel Alegre
Mãe negra
Canta a remota canção
Que seus avós já cantavam
Em noites sem madrugada.
Tão estrelado e festivo.
É para o céu que ela canta,
Que o céu
Às vezes também é negro.
No céu
Tão estrelado e festivo
Não há branco, não há preto,
Não há vermelho e amarelo.
- Todos são anjos e santos
Guardados por mãos divinas.
A mãe negra não tem casa
Nem carinhos de ninguém...
A mãe negra é triste, triste,
E tem um filho nos braços...
Mas olha o céu estrelado
E de repente sorri.
Parece-lhe que cada estrela
É uma mão acenando
Com simpatia e saudade...
Aguinaldo Fonseca, poeta de Cabo Verde, in Primeiro Livro de Poesia (selecção de Sophia de Mello Breyner Andresen)
Nambuangongo
não viste nada nesse dia longo longo
a cabeça cortada e a flor bombardeada
não tu não viste nada em Nambuangongo
Falavas de Hiroxima tu que nunca viste
em cada homem um morto que não morre.
Sim nós sabemos Hiroxima é triste
mas ouve em Nambuangongo existe
em cada homem um rio que não corre.
Em Nambuangongo o tempo cabe num minuto
em Nambuangongo a gente lembra a gente esquece
em Nambuangongo olhei a morte e fiquei nu.
Tu não sabes mas eu digo-te: dói muito.
Em Nambuangongo há gente que apodrece.
Em Nambuangongo a gente pensa que não volta
cada carta é um adeus em cada carta se morre
cada carta é um silêncio e uma revolta.
Em Lisboa na mesma isto é a vida corre.
E em Nambuangongo a gente pensa que não volta.
Porém tu nada sabes deste tempo longo longo
tempo exactamente em cima do nosso tempo.
Ai tempo onde a palavra vida rima com a palavra morte em Nambuangongo.
terça-feira, 3 de maio de 2011
Porque
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Sophia de Mello Breyner Andresen
A Arte de dizer...
Disse Sophia de Mello Breyner, no «Posfácio» do seu Primeiro Livro de Poesia:
«Espero que estes poemas sejam lidos em voz alta, pois a poesia é oralidade. Toda a sua construção, as suas rimas, os seus jogos de sons, a melopeia, a síntese, a repetição, o ritmo, o número, se destinam à dicção oral.
A poesia é a continuidade da tradição oral. E é mestra da fala: quem, ao dizer um poema, salta uma sílaba, tropeça, é como quem ao subir uma escada falha um degrau.
Por isso, para que a leitura em voz alta se entenda e seja bela, é necessário que a dicção seja clara, nítida, bem silabada e bem ritmada. As diferenças de sotaque não criam problema algum, pois cada sotaque tem a sua beleza. E é importante aprender o poema de cor, pois o poema decorado fica connosco e vai-nos revelando melhor, sempre que o repetimos, o seu sentido e a beleza da sua linguagem e da sua construção.»
«Espero que estes poemas sejam lidos em voz alta, pois a poesia é oralidade. Toda a sua construção, as suas rimas, os seus jogos de sons, a melopeia, a síntese, a repetição, o ritmo, o número, se destinam à dicção oral.
A poesia é a continuidade da tradição oral. E é mestra da fala: quem, ao dizer um poema, salta uma sílaba, tropeça, é como quem ao subir uma escada falha um degrau.
Por isso, para que a leitura em voz alta se entenda e seja bela, é necessário que a dicção seja clara, nítida, bem silabada e bem ritmada. As diferenças de sotaque não criam problema algum, pois cada sotaque tem a sua beleza. E é importante aprender o poema de cor, pois o poema decorado fica connosco e vai-nos revelando melhor, sempre que o repetimos, o seu sentido e a beleza da sua linguagem e da sua construção.»
domingo, 1 de maio de 2011
A propósito dos vossos blogues...
Ao longo da vida, o ser humano é marcado pelas leituras que faz, pelos filmes que visiona e pelas músicas que ouve.
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